quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O que é a Psicologia?

"SÓCRATES – Diz-me, Eutidemo, já estiveste alguma vez em Delfos?
EUTIDEMO – Sim, por duas vezes.
SÓCRATES – Reparaste então, numa certa parte do templo, na inscrição: ‘Conhece-te a ti mesmo’?

EUTIDEMO - Sim
SÓCRATES – Pois bem, olhaste-a com olhar distraído ou prestaste atenção e tentaste examinar quem tu és"
(Memoráveis, IV II).

Ao longo dos séculos o homem tem vindo a tentar responder à mesma questão: “O que é o homem?”.
Várias foram as ciências que se debruçaram sobre essa questão, desde a Biologia, que explica a nossa existência em termos físicos, a Antropologia que tenta perceber quem é o homem, a Sociologia que tenta ver o homem inserido em sociedade, entre outras. Existe uma que se debruça essencialmente em compreender o Homem e descobrir que caminhos tem o homem para compreender o outro.

Esta pode ser à primeira vista uma perspectiva mais filosófica, no sentido fenomenológico-existencial, no entanto como vimos no trecho acima, já na Grécia Antiga os filósofos se preocupavam com questões psicológicas. Podemos então dizer que a Psicologia aparece sempre que o homem sente a necessidade de se compreender a si e aos outros e de perceber os porquês dos seus sentimentos e atitudes. Também é visível neste diálogo que todas as intervenções de Sócrates são uma interrogação, numa tentativa de ajudar o outro a pensar por si mesmo. Esta é uma das componentes da Psicologia, ajudarmo-nos a conhecermos a nós mesmos e aos outros através do diálogo e da palavra. Mas para que não fiquem dúvidas quanto ao carácter cientifico da Psicologia, por esta aparentar ser subjectiva é importante salientar que se tornou ciência em 1879 quando Wundt criou o 1º laboratório experimental dando-lhe um cariz mais exacto. Enquanto ciência a psicologia vem explicar aquilo que é diferente, aquilo a que as pessoas não estavam habituadas, aquilo que de alguma forma estranhamos, quer em nós mesmos quer na sociedade em geral.
Esta ciência acaba por se dividir em várias áreas: educacional dentro das escolas, organizacional dentro das empresas, e clinica dentro das instituições de saúde. Recentemente, temos também a área da psicologia do desporto nas prácticas desportivas, e a psicologia criminal no âmbito da justiça e sistemas prisionais. No entanto cada vez se verifica mais que as diferentes áreas se tocam em muitos pontos, porque o ser humano não está dividido em parcelas, e tem que ser visto num todo. Daí a importância dos serviços de psicologia terem uma equipa multidisciplinar onde todos os saberes se tocam e se partilham para o bem da pessoa. A área mais emocional de um indivíduo vai acabar por influenciar o seu rendimento tanto a nível educacional, como laboral, qualquer que seja a sua área e o inverso também se verifica.

Foram-se criando diferentes linhas de intervenção em psicologia, entre as quais, a intervenção psicanalítica, a comportamental, e a cognitiva. Posteriormente derivadas da psicanálise, surgiram abordagens mais dinâmicas, outras vindas da filosofia mais fenomenológicas-existencialistas, outras mais humanistas como a terapia centrada na pessoa, as áreas cognitivas e comportamentais aliaram-se criando uma perspectiva cognitiva-comportamental e recentemente a vinda da neurologia surgiu a neuropsicologia.

No entanto, o que é essencial é saber-se que independentemente das áreas de actuação ou das linhas de intervenção a Psicologia é uma ciência que se debruça essencialmente em compreender o ser humano e o seu funcionamento de forma a explicar tudo aquilo que é estranho em nós e visa sempre pelo menos um resultado – a diminuição do sofrimento.


Imagem: "Metamorphosis of Narcissus" de Salvador Dali