terça-feira, 10 de abril de 2018

Adolescência - O período das contradições

A fase da adolescência é a que mais preocupa os pais e é por muitos considerada uma fase de risco. Desde já gostaria de desmistificar esta ideia, que em geral não é correcta. Só existem adolescentes em risco, quando o desenvolvimento infantil não se fez de forma adequada, quer isto dizer que se a criança se desenvolver num ambiente desadequado, sujeita a maus tratos físicos/emocionais, é nesta fase de maior vulnerabilidade que os problemas irão surgir com maior gravidade. A interpretação do risco é por isso muito relativa : é verdade que o adolescente está mais vulnerável, mas se tiver sido bem “preparado”, as consequências não serão um risco, mas sim apenas uma fase de transição .
A autora Anna Freud referia que
a única anomalia que poderia existir durante a fase da adolescência era o facto de não mostrarem sinais de inquietação psicológica. Se essa inquietação for encarada como normal, não haverá futuramente reacções excessivas (Sprinthall & Sprinthall, 1993).
Na fase da adolescência começa por se dar uma alteração do próprio corpo, quer ao nível da fisionomia, quer ao nível hormonal, o que só por si, causa enorme estranheza ao adolescente. Dá-se um descobrir do eu individual, da auto-afirmação, mas também do eu social. O adolescente ambiciona conseguir uma auto-afirmação, mas ao mesmo tempo quer ser aceite num grupo de pares, e vive na busca de descobrir um equilíbrio entre esses dois pólos: o eu e os outros. Também está numa fase, em que já não é criança, por isso não deve ser tratado como tal, mas também ainda não é adulto, daí que por vezes o seu comportamento oscile muito entre estas duas fases, por um lado quer ser adulto e fazer o que os adultos fazem com toda a liberdade que isso acarreta, e ao mesmo tempo regridem a um estádio anterior, ainda infantil (crescer causa sofrimento e essa é uma forma de o evitarem) necessitando ainda da vigilância à distância de um adulto cuidador.

É nesta altura que os pais sentem os filhos a distanciarem-se de si e a criarem um mundo cada vez mais deles, onde outras relações afectivas começam a surgir. Isto ocorre porque o adolescente faz um deslocamento dos seus afectos para outras figuras relevantes na sua vida. É comum surgirem ídolos de referência, quer musicais, cinema, professores, etc.

Também é habitual nesta fase o adolescente isolar-se, separando-se tanto dos adultos como dos pares, de forma a esconder-se psicologicamente. Neste seu isolamento o adolescente poderá recorrer ao imaginário, organizando-se, crescendo e exercitando o seu projecto de vida futura.

Nesta fase já não é tudo certo ou errado, existindo agora meios termos, mas há ainda uma tentativa do adolescente em se posicionar de uma forma rígida, aderindo a determinadas ideologias, adoptando determinadas posições dogmáticas. É importante que psicólogos e adultos em geral consigam identificar estas defesas no adolescente de forma a saberem lidar com a situação sem entrarem em confrontos desnecessários. É importante perceber que cada um dos destes mecanismos é salutar de forma a permitir que o adolescente ultrapasse esta fase, não encorajando comportamentos desadequados, mas também não os criticando. Entendê-los de forma a perceber o adolescente que está à nossa frente (Sprinthall & Sprinthall, 1993).