quarta-feira, 9 de julho de 2008

Normal ou patológico?

Ser-se ou não normal é uma classificação perigosa com a qual frequentemente nos deparamos na nossa sociedade. Quantas vezes ouvimos dizer acerca desta ou daquela pessoa, que não é normal porque se isola, não é normal porque não se comporta como os outros, não é normal na sua forma de vestir, etc.
Segundo o Dicionário de Psicologia, a palavra normal, significa “que não se afasta exageradamente do vulgar, da média ou da norma “(Chaplin, 1981). E a palavra norma que vem do latim significa, medida, linha de orientação, regra.
É um facto que sendo nós, seres sociais, nos medimos comparativamente à média da restante população. À medida que crescemos é suposto interiorizarmos regras e normas que facilitam a nossa adaptação na sociedade, a nossa comunicação e a sermos aceites pelos outros. Mas vários autores consideraram a norma ou o conceito de normalidade perigosamente limitativo para a existência individual, colocando de lado a experiência de vida que cada um de nós tem e causadora de angustia para aqueles que não estão de acordo com a suposta regra social.
É humanamente impossível que pessoas com histórias de vida diferentes tenham os mesmos comportamentos e os mesmos sentimentos. E tendo em conta que a noção de normalidade está intrinsecamente ligada ao conceito social e cultura, não poderemos esquecer que as sociedades não são todas iguais e cada uma tem também a sua própria noção do que é ou não aceite como normal. Por isso aquilo que é normal numas culturas já não o é noutras.
Começa então a ser notório que o julgamento social que a maioria de nós faz dos outros não é assim tão claro e linear.
Ainda tendo como base a noção clássica do normal, poderíamos dizer que tudo o que se afasta da norma ou das regras previamente estipuladas, será patológico. Mas será legitimo dizermos que todo aquele que não viveu de forma igual à maioria é patológico? E haverá uma forma de vida exactamente igual para todos? Isso seria o mesmo que dizer que todos somos patológicos. Já que não nos inserimos todos no mesmo meio cultural e não poderemos dizer que uma cultura é mais normal que outra. Ninguém tem um percurso de vida exactamente igual, até porque existe individualidade na forma como cada um apreende o que se passa à sua volta.
E poder-se-á enlouquecer tentando a todo o custo seguir aquilo que supostamente ditam as normas da sociedade?
Ter comportamentos que vão contra a sua natureza psíquica, fazer uma coisa quando se está a sentir outra completamente oposta só porque a norma social assim o dita, poderá causar tal angústia que a pessoa prefere enlouquecer, já que a loucura é uma das formas de fugir ao sofrimento. Não será isso mais patológico?
Não conseguiria nem acho ético tentar definir o que é normal ou patológico. No entanto não posso deixar de admirar as pessoas que se amam com todas as suas diferenças. Carl Rogers fala-nos em “Ser o que realmente se é” e eu gosto de acreditar que normal é amar o que realmente se é.
Imagem: "O Grito" de Munch