quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Natal, que sentimentos nos traz?

Nesta época festiva, existem determinados acontecimentos da nossa vida que sentimos com mais intensidade, quer seja porque fazemos uma retrospectiva do ano que passou ou porque determinados acontecimentos marcantes não nos deixam viver esta época repleta de magia e simbolismo de forma plena.
O Natal é uma época simbólica. Simboliza o nascimento e consequentemente simboliza o conceito que a nossa sociedade tem de família. É uma época em que habitualmente a família se reúne, e em que se tem a ideia mágica que todos os problemas e conflitos desaparecem por alguns dias. No entanto para outros, esta época em vez de mágica, torna-se muito amarga, pois é quando ficam mais presentes determinados acontecimentos marcantes da nossa vida, que acabam por ser vividos com mais intensidade. Para quem não tem família com quem se reunir, ou para quem viveu a morte de alguém próximo, ou vivenciou uma separação/divórcio recente ou para quem está a enfrentar um acontecimento difícil na sua vida, quer seja uma doença grave, problemas familiares, ou de outra espécie, é nesta altura que são mais sentidos. É uma altura em que o mundo pára. Para-se de trabalhar, a rotina diária que nos deixa adormecidos é alterada e há algo que nos acorda e nos faz pensar. E se não faz pensar, pelo menos faz sentir, algo que nem percebemos bem o que é, mas que se sente.
É importante salientar que a intensidade da dor de cada um depende muito da sua maturidade, personalidade, e experiência de vida individual.

Natal e Solidão


Para quem vive uma vida mais solitária, com conflitos ou distanciamento de familiares, é frequente sentir mais o peso da solidão, e do abandono. Poderão surgir alguns sentimentos de culpa, raiva, tristeza, mágoa, por estarem sós ou de abandono por sentirem que foram deixados sós. É nessa altura que uma pessoa se apercebe mais intensamente da solidão em que vive, sem por vezes perceber muito bem do porquê, ou dos reais motivos que a conduziram a uma vida mais solitária.
E se não se sabe o motivo real, então a dor poderá ser mais intensa e mais difícil de ser ultrapassada. Há que perceber bem o porquê dos nossos sentimentos, e o porquê do rumo da nossa vida, para depois podermos lutar e ultrapassar o que nos causa mal estar.

Natal e Luto


Para quem está de luto, é uma dor diferente, pois já existe um motivo, mas sentirmos que alguém que nos é querido, que todos os anos estava ali, e de repente deixa de estar, torna o Natal uma época difícil, em que sofremos pela perda, pelo luto que estamos (ou não) a fazer e pela pessoa que já não está presente, e que já não está ali a vivenciar aquele acontecimento junto de nós. É comum sentirmos essa pessoa mais viva dentro de nós, principalmente se a perda foi recente e/ou o processo de luto não estiver concluído. O recordar mais essa pessoa, lembrá-la no seu passado ou imaginá-la ali connosco são alguns dos pensamentos fantasiosos que é comum ocorrerem. Nesta situação, a procura especializada de um técnico que ajude, não só a suportar a dor, mas também a ultrapassar correctamente o processo de luto, é essencial para o retorno do nosso equilíbrio psíquico.


Natal e separação/divórcio

Uma separação/divórcio familiar, quer do ponto de vista do casal, quer do ponto de vista dos filhos é sempre sentido com muita tristeza, já que o casal sente com mais intensidade a alteração que ocorreu nas suas vidas. Semelhante ao processo de perda/morte de um familiar, aqui também há muitas recordações que virão à mente, quase um processo de luto, em que a pessoa está viva. É no entanto um sentimento diferente, pois nesse há a certeza de que nunca mais se vai estar com essa pessoa e não é uma separação opcional. Neste tipo de separação/perda, também podem ocorrer sentimentos de abandono (pela pessoa deixada), e culpa (pela pessoa que deixou), ou abandono e culpa por ambos, ou a simples recordação dolorosa de uma etapa que já terminou, quando a separação é de comum acordo e um processo efectuado de forma adequada. Quanto mais difícil for a separação, mais difícil será a vivência desta época de suposta harmonia, pois na sua vida poderão estar a vivenciar tudo, menos comunhão e paz.
Para os filhos de um casal recém separado, a situação pode-se tornar deveras mais complicada. A criança sofre pelos mesmos motivos dos adultos - pela mudança que ocorreu na sua vida, pelo abandono, ou porque sente a perda de um dos pais, ou porque os sente divididos e tem que se dividir entre eles, e sofrem pelo sofrimento que os pais sentem e não conseguem esconder. Este processo torna-se mais complicado se os pais não gerirem essa separação de forma equilibrada e sem conflitos. Agora imaginemos estes sentimentos nesta época do Natal com os pais a decidirem com quem a criança vai ficar, por vezes a colocarem o peso dessa decisão na criança, fazendo-a sentir-se culpada, quer escolha um ou o outro. De forma a minimizar este tipo de sofrimento na criança, é importante que o casal mantenha uma relação estável, de amizade e harmonia de forma a transmitirem à criança que apesar de separados, estão juntos para ela, estão lá para ela. Devem falar com ela sobre as decisões relativas ao Natal sem culpas ou mágoas. Decidindo sempre em união. Sabe-se que por vezes essa situação ideal nem sempre é possível. Por isso num processo de divórcio será importante haver um acompanhamento psicológico que ajude a gerir este tipo de situações e sentimentos. De forma a ajudar a família a saber viver com os acontecimentos da sua vida e a ultrapassá-los transformando-os sempre em algo positivo e construtivo para as suas vidas.
Independentemente do tipo de perdas que por vezes podem vir a doer para sempre dentro de nós, é importante percebermos que é possível diminuir substancialmente a intensidade dessa dor.
Acabei por focar três exemplos em que a época natalícia poderá trazer sentimentos pouco adequados ao que se espera dela, no entanto existem muitos mais exemplos, cada um especifico de cada pessoa que o vive e é completamente impossível prevê-los a todos.